O Rei do Benefício: A Escolinha da fraude Previdenciária - Sociedade alienada ao crime organizado.
- Jean Hoffmann

- 28 de jul.
- 7 min de leitura
Atualizado: 29 de jul.

Brasil, julho de 2025, todos somos surpreendidos, na realidade quase todo brasileiro, menos os golpistas e os comparsas do crime, é deflagrada a Operação Fraus, da Polícia Federal, que revelou um dos maiores esquemas de fraude previdenciária da história recente. No centro da investigação estava um homem conhecido pelos codinomes “Professor” e “Rei do Benefício” — apontado como o mentor intelectual de uma rede criminosa que atuava há mais de uma década burlando o sistema do INSS.
O nome verdadeiro do “Rei” ainda não foi oficialmente divulgado pelas autoridades, mas ele é descrito como um especialista em manipular dados, criar identidades falsas e ensinar outros criminosos a fazer o mesmo. Sua atuação era tão sistemática que ele chegou a ministrar aulas presenciais e online, ensinando passo a passo como fraudar benefícios assistenciais e aposentadorias.
A investigação teve início após um relatório do Núcleo Regional de Inteligência Previdenciária e Trabalhista do Rio de Janeiro, que identificou irregularidades em benefícios concedidos na agência do INSS de Arraial do Cabo (RJ). A partir daí, a PF descobriu uma estrutura altamente organizada, com envolvimento de servidores públicos, gerentes bancários, profissionais gráficos e correspondentes bancários, todos operando sob a coordenação do “Rei”.
No corpo do texto, vamos mergulhar nos detalhes dessa operação, entender como funcionava o “manual do golpe” e refletir sobre os impactos desse escândalo para o sistema previdenciário brasileiro.
👑O Mentor do Golpe do INSS
Na manhã de 17 de julho de 2025, agentes da Polícia Federal deflagraram a Operação Fraus, revelando um esquema de fraudes previdenciárias que vinha se desenrolando há mais de uma década. No epicentro da investigação estava um homem conhecido apenas pelos codinomes “Professor” e “Rei do Benefício” — o cérebro por trás de uma rede criminosa que operava com precisão cirúrgica no estado do Rio de Janeiro.
Embora seu nome verdadeiro ainda esteja sob sigilo judicial, o “Rei” era descrito como um especialista em legislação previdenciária e manipulação de sistemas digitais. Ele não apenas aplicava golpes: ensinava como aplicá-los. Em locais discretos de cidades como Armação dos Búzios, Cabo Frio e São Gonçalo, o mentor ministrava aulas presenciais e online, onde detalhava passo a passo como fraudar o sistema do INSS. Os encontros eram tratados como “consultorias técnicas”, e os participantes pagavam para aprender a simular aposentadorias, pensões por morte e auxílios-doença.
O mistério em torno do “Professor” cresceu quando investigadores descobriram que ele havia criado um verdadeiro manual do crime previdenciário, com instruções sobre falsificação de documentos, criação de perfis falsos no sistema Meu INSS, e uso de procurações manipuladas. O material circulava entre membros da quadrilha como se fosse conteúdo acadêmico — com direito a apostilas, vídeos e até simulações de requerimentos.
A investigação começou após um relatório do Núcleo Regional de Inteligência Previdenciária e Trabalhista do Rio de Janeiro, que identificou irregularidades em benefícios concedidos na agência do INSS de Arraial do Cabo. A partir daí, a PF seguiu os rastros digitais e financeiros que levaram ao mentor, revelando uma estrutura criminosa que envolvia servidores públicos, gerentes bancários, profissionais gráficos e correspondentes bancários.
O “Rei do Benefício” não era apenas um golpista — era um instrutor do crime, que transformou conhecimento técnico em uma ferramenta de corrupção em larga escala. E foi justamente essa arrogância pedagógica que o levou a ser descoberto.
🏛️ A Estrutura da Organização
A rede criminosa comandada pelo “Rei do Benefício” operava como uma engrenagem bem ajustada, com divisão clara de funções e atuação coordenada em pelo menos sete cidades do estado do Rio de Janeiro — incluindo Armação dos Búzios, Cabo Frio, São Gonçalo, Casimiro de Abreu e a capital fluminense. A Polícia Federal identificou que o grupo atuava há mais de dez anos, burlando o sistema de concessão de Benefícios de Prestação Continuada (BPC/LOAS) por meio de acessos indevidos à plataforma Meu INSS.
Cada integrante da quadrilha tinha um papel específico: servidores públicos acessavam sistemas restritos para validar requerimentos; gerentes bancários cobravam cerca de R$ 500 por cada conta aberta para receber os valores indevidos; profissionais gráficos falsificavam documentos como laudos médicos e comprovantes de residência; e correspondentes bancários facilitavam a movimentação dos recursos e a abertura de contas em nome de terceiros.
A sofisticação do esquema permitia que os criminosos manipulassem cadastros e requerimentos com agilidade. Em apenas seis meses, foram protocolados 415 pedidos fraudulentos, resultando em um prejuízo direto de R$ 1.622.879,86. O volume era tão alto que, em diversos casos, os próprios fraudadores não conseguiam abrir todas as contas bancárias necessárias para o saque dos benefícios, o que levava à suspensão automática dos pagamentos por falta de movimentação.
A denúncia que deu origem à operação partiu de um relatório do Núcleo Regional de Inteligência Previdenciária e Trabalhista do Estado do Rio de Janeiro, vinculado à Coordenação-Geral de Inteligência da Previdência Social (CGINP). O documento apontava irregularidades sistemáticas na agência do INSS de Arraial do Cabo, onde diversos benefícios suspeitos estavam sendo mantidos sem justificativa legal.
📚 O Manual do Golpe: Aulas, método e o início do fim
O “Professor”, como era conhecido entre os comparsas, não se limitava a aplicar fraudes. Ele transformou o crime em conteúdo didático. Segundo a Polícia Federal, o curso surgiu como uma forma de expandir a operação: ao invés de executar todos os golpes sozinho, ele passou a ensinar outros criminosos a replicar o modelo, cobrando por isso e mantendo parte dos lucros.
As aulas eram ministradas em Casimiro de Abreu, São Gonçalo e Armação dos Búzios, em locais discretos — como salas alugadas em sindicatos e escritórios de fachada. O conteúdo era apresentado como “consultoria previdenciária alternativa”, e os alunos eram recrutados por meio de indicações internas e grupos fechados de WhatsApp, onde o “Professor” divulgava vídeos, apostilas e até simulações de requerimentos.
O manual era tão sistemático que incluía:
Modelos prontos de laudos médicos falsificados.
Instruções para criar perfis no Meu INSS com dados manipulados.
Técnicas para simular tempo de contribuição usando documentos retroativos.
Estratégias para usar procurações falsas e movimentar contas bancárias sem levantar suspeitas.
A precisão do conteúdo chamou atenção dos investigadores. Foi justamente a padronização dos requerimentos — com os mesmos tipos de documentos, datas e justificativas — que levou o Núcleo Regional de Inteligência Previdenciária e Trabalhista do Rio de Janeiro a desconfiar. Um relatório técnico apontou que dezenas de benefícios estavam sendo concedidos com laudos médicos idênticos, emitidos por clínicas inexistentes.
Esse foi o ponto de virada. A PF cruzou os dados e identificou que os mesmos nomes apareciam como requerentes, procuradores e até como médicos — todos ligados ao círculo do “Professor”. A partir daí, a Operação Fraus foi deflagrada em 17 de julho de 2025, com mandados de busca em sete cidades fluminenses.
O que começou como um curso informal virou a armadilha que derrubou o mentor. A obsessão por controle e eficiência — que tornava o manual tão eficaz — também deixou rastros demais.
💸 O Preço da Fraude - Do faturamento ao prejuízo dos cofres públicos.
O esquema financeiro por trás da operação era igualmente bem estruturado. O “manual do golpe” não era distribuído gratuitamente. Segundo as investigações, o curso oferecido pelo “Professor” custava entre R$ 1.000 e R$ 1.500 por aluno, dependendo do nível de acesso ao conteúdo e da participação em aulas presenciais ou consultorias individuais. Os pagamentos eram feitos em espécie ou via transferências para contas de laranjas, dificultando o rastreamento.
A Polícia Federal identificou que o grupo formalizou 415 requerimentos fraudulentos em apenas seis meses, gerando R$ 1,6 milhão nesse período. Considerando que o esquema operava há mais de 10 anos, o prejuízo total aos cofres públicos ultrapassa os R$ 30 milhões.
Com base nos valores praticados:
R$ 500 por conta aberta (gerentes bancários cooptados).
R$ 2.500 por benefício vendido.
Parte dos benefícios não eram vendidos, mas mantidos sob controle da quadrilha, que sacava os valores mensalmente.
Estima-se que o “Rei” tenha faturado entre R$ 8 e R$ 12 milhões diretamente com a venda dos cursos e com sua participação nos lucros dos benefícios fraudulentos. Esse valor não inclui o que foi movimentado por seus discípulos, que também repassavam parte dos ganhos.
O grupo atuava há mais de uma década, com registros de fraudes desde 2015. A estrutura foi se sofisticando ao longo dos anos, com o “Professor” assumindo o papel de mentor e multiplicador do golpe. A operação só foi desmantelada em julho de 2025, após um relatório técnico identificar padrões repetitivos nos requerimentos.
O “Rei” mantinha o controle da operação com mão firme e conhecimento técnico. Ele decidia quem podia aplicar os golpes, quem recebia os benefícios e como os lucros seriam divididos. Os gerentes bancários, servidores públicos e correspondentes envolvidos recebiam comissões fixas, enquanto o mentor ficava com a maior fatia.
⚠️ Impactos e Reflexões
A queda do “Rei do Benefício” revelou uma face do crime que por anos operou como um sistema paralelo, alimentado por falhas institucionais e pela facilidade tecnológica que deveria servir ao cidadão. A manipulação da plataforma Meu INSS, com dados forjados e perfis falsos, escancarou uma fragilidade alarmante na segurança digital da previdência brasileira. E quando a Polícia Federal cruzou os padrões suspeitos — como laudos idênticos e vínculos entre requerentes e médicos fantasmas — a trama desmoronou com precisão cirúrgica.
Mais do que um escândalo financeiro, a história expôs como o crime organizado se reinventa: não com armas, mas com acessos, senhas e arquivos em PDF. O mentor da fraude criou uma verdadeira cultura do golpe, disseminada por discípulos doutrinados e alimentada por uma visão distorcida da esperteza. É aí que mora o perigo — quando o ato ilícito deixa de ser exceção e vira método.
A lição não é apenas policial. É educativa, ética e social. Precisamos de sistemas mais inteligentes, sim. Mas também de pessoas mais conscientes. A educação previdenciária deve ser reforçada como barreira preventiva, e a população deve assumir o papel de guardiã de seus próprios direitos. Monitorar extratos, proteger dados e desconfiar de promessas milagrosas são gestos simples que têm o poder de travar redes inteiras de fraude.
Se a operação revelou um buraco no sistema, ela também mostrou que é possível enfrentá-lo com inteligência, fiscalização e compromisso. O “Rei” caiu, mas o verdadeiro desafio começa agora: erradicar a cultura do golpe sistêmico integrando sociedade e crime organizado.
A lei deve punir com rigor para mostrar que a sociedade deve beneficiar pessoas integras, trazendo um impacto coletivo pela honestidade.
Fontes - sites: Metrópoles, Terra, Brasil 247, Seu Crédito Digital




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