QuintoAndar: a promessa e a realidade do unicórnio brasileiro.
- Jean Hoffmann

- 14 de nov.
- 5 min de leitura

O QuintoAndar é um caso emblemático de startup brasileira que alcançou status de unicórnio, mas expôs fragilidades típicas do setor: dependência de capital externo, dificuldade em gerar lucro e questionamentos sobre governança. O modelo, inspirado em empresas americanas que também enfrentaram crises, mostra como narrativas de disrupção podem seduzir investidores sem entregar sustentabilidade.
A staturp brasileira que chegou a valer 1 bilhão de reais.

Fundado em 2012 por Gabriel Braga e André Penha, o QuintoAndar surgiu com a proposta de simplificar o mercado de locação residencial no Brasil. A plataforma atua como fiador digital e intermediador de aluguéis, eliminando burocracias tradicionais e atraindo milhares de usuários. Em pouco tempo, tornou-se referência no setor e passou a ser visto como um dos maiores unicórnios brasileiros.
Em 2021, após uma rodada de investimento Série E de US$ 300 milhões, liderada pela Ribbit Capital, a empresa foi avaliada em US$ 4 bilhões, tornando-se a proptech mais valiosa da América Latina. O aporte tinha como objetivo expandir a atuação nacional e iniciar operações no México, reforçando a ambição de internacionalização. No Brasil, o QuintoAndar já estava presente em dezenas de cidades, consolidando-se como uma das maiores plataformas de aluguel e compra de imóveis.
Fragilidades do modelo de negócio
Nos primeiros anos de expansão, o QuintoAndar conseguiu mostrar números expressivos em termos de volume de negócios intermediados. Entre 2021 e 2025, a plataforma injetou R$ 10 bilhões na economia brasileira, o que equivale a cerca de 0,1% do PIB nacional. Esse impacto foi acompanhado da geração de mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, segundo estudo realizado pelo Cedeplar/UFMG.
Parece contraditório falar em R$ 10 bilhões injetados na economia e, ao mesmo tempo, dizer que a empresa enfrenta fragilidades. Vamos separar bem os conceitos para não gerar confusão:
Impacto econômico: significa que o QuintoAndar movimentou dinheiro no mercado imobiliário (aluguéis, reformas, serviços associados). Esse valor circulou na economia brasileira e foi contabilizado em estudos como efeito positivo.
Saúde financeira da empresa: é outra coisa. Apesar de movimentar bilhões, o QuintoAndar não conseguiu transformar esse volume em lucro líquido. Ou seja, a empresa gera atividade econômica, mas continua dependente de aportes externos para sobreviver.
Situação financeira e contábil do QuintoAndar
Apesar desses números, o ponto crítico está na rentabilidade. O QuintoAndar conseguiu escalar rapidamente sua base de usuários e transações, mas não converteu esse crescimento em lucro líquido. A empresa continuou a registrar prejuízos operacionais, sustentando-se por meio de rodadas de investimento, os pontos a serem analisados são:
Promessa inicial: unicórnio avaliado em US$ 4 bilhões em 2021, com expansão para dezenas de cidades e até planos de internacionalização.
Fragilidade atual: dificuldade em gerar caixa próprio, críticas sobre governança e transparência, e questionamentos sobre sustentabilidade do modelo.
Comparação internacional: modelos semelhantes nos EUA, como Zillow e WeWork, também cresceram rápido, mas enfrentaram crises quando os números não sustentaram a narrativa.
Por que é um exemplo de promessa que sucumbiu?
O QuintoAndar não está “falido” como a Oi ou o IRB Brasil, mas sucumbiu no sentido de não entregar o que prometeu aos investidores:
Prometeu disrupção e rentabilidade, mas até hoje não mostrou lucro consistente.
Depende de rodadas de capital externo para manter operações.
O risco é que, sem novos aportes, o modelo não se sustente no longo prazo.
Portanto: o QuintoAndar movimenta a economia, mas não gera retorno financeiro sólido para seus acionistas. É exatamente esse descompasso que faz dele um exemplo de startup que vendeu uma narrativa poderosa, mas se mostrou insuficiente quando olhamos para resultados de longo prazo.
O mercado imobiliário digital exige altos custos de aquisição de clientes e manutenção tecnológica, e sem margens claras de rentabilidade, a empresa se torna refém de novos aportes.
O olhar frustrado do investidor
Para investidores, o QuintoAndar representa um alerta. Startups como essa priorizam métricas de crescimento, número de usuários, cidades atendidas, volume de transações, mas deixam em segundo plano a rentabilidade e a disciplina financeira. A valorização inicial foi expressiva, mas sem fundamentos sólidos para sustentar o longo prazo, o risco de perdas é elevado.
O caso reforça a necessidade de avaliar fluxo de caixa, governança e transparência antes de apostar em empresas que vendem apenas narrativas. O investidor que comprou a promessa de transformação do mercado imobiliário brasileiro agora se depara com a realidade: crescimento acelerado não garante sustentabilidade.
Outro ponto crítico são as margens estreitas do setor imobiliário. O QuintoAndar obtém receita principalmente por meio de comissões sobre aluguéis e vendas, mas essas margens são pequenas. Para sustentar a operação, seria necessário atingir uma escala muito maior ou diversificar as fontes de receita, algo que ainda não foi plenamente realizado.
A dependência de capital externo também é evidente. Até hoje, a empresa já captou mais de US$ 600 milhões em rodadas de investimento, mas sem fluxo de caixa positivo, cada nova expansão depende de novos aportes. Essa dependência cria insegurança para investidores, já que o negócio não se sustenta sozinho.
Além disso, os custos tecnológicos e operacionais são elevados. Manter a plataforma, sistemas antifraude, atendimento ao cliente e expansão geográfica gera despesas fixas significativas, que acabam pressionando ainda mais os resultados operacionais.
Para que o QuintoAndar consiga finalmente dar lucro, alguns ajustes são indispensáveis. A empresa precisa diversificar receitas, explorando serviços financeiros como crédito imobiliário e seguros, além de monetizar melhor sua base de clientes. Também é fundamental buscar eficiência operacional, reduzindo custos de aquisição e aumentando a retenção de usuários. Outro ponto é reforçar a governança e transparência, oferecendo maior clareza nos números para conquistar a confiança de investidores de longo prazo. Por fim, qualquer plano de internacionalização, como a expansão para o México, só fará sentido se o modelo já estiver rentável no Brasil.
As projeções para o futuro indicam que, no curto prazo (2025–2026), o foco deve ser consolidar operações no Brasil e ajustar margens. No médio prazo, a aposta está em novos produtos financeiros ligados ao mercado imobiliário, capazes de aumentar a receita por cliente. Já no longo prazo, a empresa pode buscar um IPO ou nova rodada bilionária, mas isso só será viável se apresentar fluxo de caixa positivo.
O que devemos levar em conta nesse caso?
O QuintoAndar mostra como o Brasil replicou modelos americanos, como Zillow e WeWork, que também enfrentaram crises de credibilidade e governança. A startup tornou-se símbolo de uma era em que ideias bilionárias foram compradas sem lastro real. Hoje, a lição é clara: crescimento sem lucro é insustentável, e o investidor precisa olhar além da narrativa para proteger seu capital.
Fontes:
Fotos - Imagens via BING
Sites: News Room - Quinto Andar; Brasil em Folhas; CNN Brasil; Veja Abril; HUB Imobiliario; Época Negócios; Scielo;




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