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Os itens mais financiados no Brasil. O peso do carnê de pagamento na inflação brasileira.

  • Foto do escritor: Jean Hoffmann
    Jean Hoffmann
  • 22 de abr.
  • 3 min de leitura

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O Impacto do Crédito de Longo Prazo na Inflação Brasileira


A economia brasileira há décadas enfrenta desafios estruturais que impactam diretamente o poder de compra da população. Entre os fatores que alimentam a inflação, um dos mais subestimados é a excessiva disponibilidade de crédito de longo prazo para o consumo. No Brasil, a cultura do financiamento foi normalizada e expandida para praticamente todos os bens e serviços, tornando possível parcelar desde itens essenciais, como eletrodomésticos, até ativos de maior valor, como imóveis e veículos.


Essa política de crédito fácil, muitas vezes promovida sem critérios rigorosos de sustentabilidade econômica, cria uma pressão inflacionária significativa. O excesso de financiamento prolongado no tempo leva ao aumento artificial da demanda, impulsionando os preços de bens e serviços e reduzindo o impacto que o controle da taxa SELIC poderia ter sobre a inflação. Em vez de conter a alta dos preços por meio do aumento dos juros, uma alternativa mais eficaz seria reduzir a concessão indiscriminada de crédito de longo prazo, freando o consumo desenfreado e criando um ambiente de maior estabilidade econômica.


Para compreender melhor o peso do crédito na inflação brasileira, é essencial analisar os itens mais financiados pela população e o impacto que essa prática tem no mercado. A seguir, veremos os setores que mais dependem do crédito e como esse modelo influencia diretamente o custo de vida no país.


Os brasileiros costumam financiar diversos itens, principalmente aqueles de maior valor. Entre os mais comuns estão:


  • Veículos: Carros e motos são frequentemente adquiridos por meio de financiamento, já que o valor à vista pode ser alto. Em 2024, cerca de 70% dos carros vendidos foram adquiridos por meio de financiamento.


  • Imóveis: Casas e apartamentos são financiados por meio de programas como o Minha Casa Minha Vida ou por bancos tradicionais. Em 2024, os números ainda estão sendo consolidados, mas estima-se que o crédito imobiliário tenha ultrapassado R$ 260 bilhões, com mais de 1 milhão de imóveis financiados.


  • Eletrodomésticos: Geladeiras, fogões e máquinas de lavar são itens populares no financiamento. Em 2024, foram vendidos 117,7 milhões de aparelhos eletroeletrônicos, incluindo televisores, geladeiras, fogões e aparelhos de ar-condicionado.


  • Celulares e eletrônicos: Smartphones, notebooks e televisores também entram na lista dos mais financiados. O Brasil encerrou fevereiro de 2025 com 263,6 milhões de celulares ativos, sendo que a maioria dos consumidores opta por parcelamento ou financiamento para aquisição. Em 2023, o setor de telefonia representou 13,2% do faturamento total do e-commerce, atingindo R$ 19,7 bilhões em vendas, sendo que 98,8% desse montante correspondeu à compra de smartphones.


  • Educação: Cursos universitários e especializações muitas vezes são pagos por meio de crédito estudantil. Em 2024, o financiamento estudantil movimentou cerca de R$ 30 bilhões, considerando programas como o FIES e financiamentos privados. O FIES, principal programa de financiamento estudantil, concedeu crédito para aproximadamente 1,2 milhão de estudantes no último ano. O saldo total de crédito estudantil no Brasil, incluindo financiamentos privados, atingiu R$ 6,5 trilhões em fevereiro de 2025.


Conclusão: O Custo do Crédito Fácil e o Endividamento da População Brasileira


O acesso irrestrito ao crédito de longo prazo no Brasil tem gerado um efeito colateral preocupante: o endividamento excessivo da população. A facilidade de parcelamento e a cultura do financiamento para praticamente todos os bens e serviços criaram um cenário onde muitos brasileiros acumulam dívidas sem perceber o impacto real no orçamento familiar.


Em 2025, cerca de 40% dos brasileiros começaram o ano endividados, refletindo a dificuldade de equilibrar as finanças em meio a um ambiente de crédito abundante. Além disso, 76,4% das famílias possuem algum tipo de dívida, incluindo cartão de crédito, carnês de loja, crédito consignado e financiamentos de veículos e imóveis. O percentual de inadimplentes, ou seja, aqueles com dívidas em atraso, chegou a 28,6%, demonstrando que uma parcela significativa da população enfrenta dificuldades para honrar seus compromissos financeiros.


O impacto desse endividamento não se limita apenas ao orçamento doméstico. A alta dependência do crédito e o parcelamento desenfreado contribuem para a inflação, pois aumentam artificialmente a demanda por bens e serviços. Em vez de conter a alta dos preços por meio do aumento da taxa SELIC, uma alternativa mais eficaz seria reduzir a concessão indiscriminada de crédito de longo prazo, evitando que o consumo desenfreado continue pressionando os preços.


Diante desse cenário, é essencial que políticas econômicas sejam reavaliadas para garantir um equilíbrio entre o acesso ao crédito e a sustentabilidade financeira da população. Sem um controle mais rígido sobre o financiamento de longo prazo, o Brasil continuará enfrentando ciclos de endividamento e inflação, dificultando o crescimento econômico e a estabilidade financeira dos cidadãos.

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