Adeus às Agências Bancárias: O futuro dos bancos é ser digital.
- Jean Hoffmann

- 14 de out.
- 4 min de leitura

A revolução digital está transformando radicalmente o setor bancário. O que antes era sinônimo de filas, papelada e atendimento presencial, hoje cabe na palma da mão — e essa mudança está longe de ser apenas uma tendência: é uma nova realidade.
A digitalização bancária no Brasil começou a ganhar força a partir de 2013, com o avanço das fintechs e o investimento dos grandes bancos em tecnologia. Mas foi a pandemia da Covid-19 que acelerou esse processo de forma disruptiva. Com o isolamento social, o acesso físico às agências foi limitado, e os bancos digitais se destacaram por sua capacidade de atender remotamente milhões de clientes. Segundo o Banco Central, houve um crescimento acelerado no uso de meios digitais para transações financeiras durante esse período.
Enquanto bancos digitais como Nubank, Inter e C6 Bank mantiveram suas operações sem interrupções, muitas instituições tradicionais enfrentaram dificuldades para adaptar seus serviços. Um estudo da FGV mostrou que os bancos mais digitalizados conseguiram manter o nível de concessão de crédito mesmo durante a crise, enquanto os menos preparados sofreram com a queda na operação.
Essa transformação também escancarou uma diferença geracional importante. A geração Z, composta por jovens entre 18 e 29 anos, já nasceu conectada e prefere amplamente os bancos digitais — 89% deles optam por esse modelo, segundo pesquisa da Oliver Wyman. Por outro lado, as gerações mais velhas, como os Baby Boomers, ainda enfrentam barreiras para adotar essas tecnologias, como dificuldade de uso, insegurança e falta de familiaridade com os aplicativos.
O Bradesco, por exemplo, fechou 342 agências físicas, 1.067 postos de atendimento e 2.564 postos de trabalho entre julho de 2024 e junho de 2025, como parte de sua estratégia de digitalização e redução de custos. Esse movimento reflete uma tendência global: os bancos estão se tornando cada vez mais enxutos, automatizados e centrados em plataformas digitais.
A ascensão dos bancos digitais. Uma competição equivalente aos 100 metros rasos.

Enquanto os bancos tradicionais reduzem sua presença física, os bancos digitais crescem em ritmo acelerado. Nubank, Inter, C6 Bank e PicPay já conquistaram milhões de clientes sem uma única agência física. Em 2025, o setor registrou crescimento de dois dígitos no lucro líquido consolidado, com destaque para o C6 Bank e o PicPay. A praticidade, ausência de tarifas e atendimento 24h são os principais atrativos — especialmente para as gerações mais jovens, que preferem resolver tudo pelo celular.
Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, os bancos brasileiros investiram R$ 47,8 bilhões em tecnologia, com foco em inteligência artificial, automação e escalabilidade digital.
O grande desafio dos bancos é pensar na inclusão digital

Essa transformação, no entanto, não é igual para todos. Pessoas mais idosas enfrentam dificuldades com o uso de aplicativos e serviços online. A exclusão digital se torna um risco real, especialmente em regiões com acesso limitado à internet ou baixa alfabetização digital. Embora o número de idosos conectados tenha crescido — saltando para 11 milhões em cinco anos — o uso limitado do celular e a complexidade dos sistemas digitais ainda criam barreiras significativas.
Mas o problema vai além da conectividade: trata-se também de inclusão financeira. Segundo dados da Anbima, mais de 70% do patrimônio investido em fundos no Brasil está nas mãos de pessoas com mais de 50 anos. Ou seja, são justamente os clientes mais valiosos — em termos de volume financeiro — que enfrentam as maiores dificuldades para acessar os serviços digitais.
Ignorar essa realidade pode gerar um paradoxo: os bancos investem bilhões em tecnologia para atrair os jovens, mas negligenciam o público que realmente detém os recursos. A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados está debatendo os impactos sociais dessa digitalização, com foco no fechamento de agências e na necessidade de políticas públicas que garantam o acesso universal — e equitativo — aos serviços financeiros.
Na contramão dos bancões: o avanço das cooperativas de crédito

Enquanto o Bradesco fechou 342 agências físicas e cortou 2.564 postos de trabalho entre julho de 2024 e junho de 2025, as cooperativas de crédito estão expandindo sua presença física e humana pelo Brasil.
O Sicredi, por exemplo, já conta com mais de 3 mil agências em todos os estados brasileiros, sendo a única instituição financeira presente em mais de 200 cidades. A cooperativa mantém um ritmo de 200 a 250 inaugurações por ano, mesmo com 96% das operações realizadas digitalmente. Isso mostra que, para muitas comunidades, a presença física ainda é essencial — especialmente em regiões rurais ou com população mais idosa.
Além disso:
O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) atingiu 21 milhões de cooperados em 2024, um crescimento de 139% desde 2016.
Os ativos das cooperativas cresceram 21,1% em 2024, superando os 13,1% do Sistema Financeiro Nacional.
Entre março de 2024 e março de 2025, os depósitos a prazo nas cooperativas cresceram 12%, o dobro da média dos bancos tradicionais.
Esse crescimento revela que o modelo cooperativista está se consolidando como uma alternativa sólida, inclusiva e regionalizada — especialmente para quem ainda valoriza o contato humano e o atendimento personalizado.
O que esperar do futuro financeiro digital?
A transformação digital dos bancos não é apenas uma tendência — é uma reconfiguração profunda da forma como lidamos com o dinheiro. O setor bancário caminha para um modelo cada vez mais enxuto, automatizado e centrado na experiência digital.
Podemos esperar:
Atendimento via inteligência artificial e chatbots, com respostas instantâneas e personalizadas.
Integração com redes sociais e plataformas de e-commerce, tornando o ato de pagar, investir ou tomar crédito algo invisível e fluido.
Expansão do Open Finance, permitindo que o cliente controle seus dados e escolha os melhores serviços com base em seu perfil.
Personalização de produtos financeiros, com algoritmos que ajustam investimentos, seguros e crédito às necessidades individuais.
Necessidade urgente de inclusão digital, especialmente para idosos e populações vulneráveis, que ainda enfrentam barreiras para acessar serviços básicos.
Essa nova era exige mais do que tecnologia: exige educação digital e financeira para todas as faixas etárias, políticas públicas inclusivas e uma abordagem humana que não abandone quem mais precisa de suporte.
O futuro dos bancos será digital — mas precisa ser democrático. E isso começa com a consciência de que inovação não pode ser sinônimo de exclusão.
Fontes - sites: Estadão E-Investidor; Câmara dos Deputados; Idosos com dignidade; Deloitte; Seu Crédito Digital; Diário de Pernambuco; Coporis Brasil; Cooperativismo de Crédito; Diário do Comércio; Caderno TCC FAE; Repositório UFMS; Rede de Pesquisa FGV; Banco Central do Brasil; Jornal de Uberada; Em Tempo; Bancos Brasil;




Comentários